HCC

Doação de órgãos: conscientização a favor da vida

27/09/2019

Neste Dia Nacional da Doação de Orgãos, HCC apresenta as histórias de Maximiano, Herick e Gilmar, pessoas que vivenciaram ou ainda vivenciam as diferentes etapas e dificuldades que envolvem a doação

A negação da família é a maior dificuldade enfrentada pelos profissionais de saúde que realizam os protocolos de captação e doação de órgãos. Por isso, com o objetivo de incentivar as pessoas a tornarem-se doadoras e, especialmente, a declararem essa vontade aos seus familiares, o Hospital de Caridade de Carazinho apresenta - neste 27 de setembro, Dia Nacional de Doação de Órgãos - depoimentos de pessoas que vivenciam ou vivenciaram, em diferentes perspectivas, as etapas que envolvem o processo de doação de órgãos.

Confira:

 

A espera

Na fila do transplante de rins há 7 meses, Maximiano Conterato nunca imaginou que desenvolveria insuficiência renal. Aos 66 anos de idade, o carazinhense, que já atuou como vereador no município, levava uma vida aparentemente saudável até ser diagnosticado com a doença. “Durante toda a minha vida me considerei uma pessoa saudável, não tive diabetes, colesterol, nem nada. O rim é silencioso, age devagar, sem dar nenhum sinal, e quando conseguimos enxergar que há algo errado já é tarde”, relata.

Mais jovem, o irmão de Maximino se prontificou em fazer a doação do órgão, porém, devido à diferença de idade, não foi possível realizar o procedimento. “Logo que fui diagnosticado meu irmão se propôs a doar para mim. Infelizmente, ele não conseguiu fazer pois é bem mais novo que eu. Não é fácil estar aqui, ainda mais eu que sempre fui uma pessoa muito ativa, mas eu estou na espera e uma hora tudo dará certo. Tenho fé!”, conta otimista.

- O que o médico e a enfermeira me falam para fazer, eu faço – afirma ele, que vem ao HCC três vezes por semana, para o tratamento de hemodiálise. “Me cuido muito mais depois que comecei a fazer hemodiálise. Quando dizem que não é pra eu comer isso ou beber aquilo, eu evito. Eu me cuido, faço o máximo que posso”, comenta.

Ao falar sobre a ato de doação, Conterato se emociona. “Agradeço muito as pessoas que se prontificam a doar órgãos, seja em vida ou após o óbito. É uma ação que faz muito bem não só para quem recebe, mas pra quem doa também. Faz bem pra saúde de um e pra alma do outro”, enfatiza.

 

Nascer novamente

Sem entender muito bem o que estava acontecendo, Heryck Nunes Canello tinha 21 anos quando foi diagnosticado. Morando em Caibi, cidade próxima a Chapecó, em Santa Catarina, o jovem passou mal no trabalho e então procurou auxílio em um posto de saúde. “Ao chegar lá eles verificaram a minha pressão e ela estava muito alterada. Logo pediram exames e, depois disso, já me encaminharam para um nefrologista. Quando vi, no outro dia já estava internado e começando a fazer hemodiálise”, relata.

O estudante de Engenharia Civil conta que o apoio familiar foi fundamental para que o impacto dessa notícia fosse superada. “Mesmo após todas as informações, ainda não entendia direito que estava acontecendo, o que mudaria na minha vida. Levou alguns dias para entender que não tinha cura e que eu precisava fazer hemodiálise até conseguir um transplante. Todos ficaram muito abalados, tive depressão e foi muito difícil me adaptar a um novo modo de viver. Foi quando minha mãe me convenceu a vir morar em Carazinho, pois, assim, ela poderia me ajudar e estar comigo durante essas dificuldades”, lembra.

Dores musculares, cansaço e mal estar eram alguns do efeitos colaterais sentidos por Heryck durante a hemodiálise. “A vida era meio complicada. Depois de cada sessão, o corpo todo ficava dolorido, um cansaço mesmo. Tinha que ir pro hospital três vezes por semana, quatro horas cada dia, e então voltava pra casa, dormia, e na noite eu ia pra faculdade. Nos dias em que não tinha hemodiálise eu me sentia bem, era quase tudo normal”, conta.

Durante o período de 1 ano e 11 meses em que ficou na fila de espera, Heryck foi chamado seis vezes para testar a compatibilidade com possíveis doadores, só conseguindo receber o transplante na sétima tentativa. “Quando aparece um rim compatível, são chamados mais de um paciente, pois, assim, se o mais compatível estiver com alguma infecção, o órgão não será perdido. Fui chamado seis vezes e só na sétima eu transplantei”, explica o estudante.

- Quando foi confirmado que o rim seria meu, minha primeira reação foi de que eu não queria, eu estava acostumado com a vida da hemodiálise - recorda Heryck. “Tinha medo da recuperação, não da cirurgia. Hospital sempre foi algo que me assustou muito, mas com a ajuda da minha mãe mudei de ideia e realizei o transplante”, afirma.

Hoje com 27 anos, Heryck define a vida após o transplante como uma “mudança completa”. “Depois do transplante a vida muda completamente! Não é uma cura, mas o fato de não precisar ficar preso à hemodiálise é quase como nascer outra vez. Restrições alimentares ainda existem, como, o consumo de pouco sal, evitar muitas frutas, entre outras coisas, além de alguns cuidados, como tomar os medicamentos corretamente, ter um cuidado maior com outras pessoas, mas, fora isso, a vida é basicamente normal”, comenta.

- Eu não sei se eu teria como agradecer à família que doou os órgãos, eles me deram a oportunidade de viver de novo – fala Herick agradecido. “Eu só gostaria de dizer às pessoas que têm receio de doar os órgãos de alguém que amam, que isso pode mudar e salvar a vida de muita gente que sofre com tratamentos e uma rotina de hospital, e isso é um gesto muito grande”, conclui.

 

Um gesto que salva vidas

- Nunca esperamos que algo assim aconteça, sabe? – afirma Gilmar Ozelame Campanha, que perdeu a irmã há um mês. “Mas, o modo que o assunto foi abordado pela equipe foi decisivo para que nossa família aceitasse doar os órgãos dela. No início foi bem complicado, mas depois eles conversaram conosco, explicaram que muitas pessoas poderiam ser beneficiadas, a importância da doação, e a gente aceitou na hora. Não pensamos duas vezes!”, afirma.

Um ato nobre que pode salvar vidas, a doação de órgãos é realizada apenas após a autorização familiar. “Muitas vezes, as pessoas não falam sobre esse assunto, não gostam porque acham que estão trazendo mau agouro. Porém, é algo muito importante de se fazer. Falar, declarar, deixar bem claro sobre a intenção de ser doador. Nunca havíamos falado disso na nossa família, mas essa experiência nos fez repensar e muito. Hoje, todos nós somos doadores”, ressalta Gilmar.

Acompanhada do sentimento de estranhamento, a doação de órgãos também envolve muitos mitos. “Após a cirurgia de retirada dos órgãos, o corpo é entregue da maneira mais natural possível para os familiares”, recorda Gilmar. “Muitos deixam de fazer a doação por causa disso, achando que o corpo ficará descaracterizado. Mas, quase não se nota que a remoção de órgãos foi feita. É muito importante falar disso, pra que essa ideia errônea seja descartada. É apenas um mito”, salienta.

- É um sentimento muito bom de poder ajudar outras pessoas - afirma o familiar. “Infelizmente, a vida dela acabou, uma pessoa jovem que tinha muitos anos de vida pela frente. Entretanto, como nos foi dito, esses órgãos vão ajudar outras pessoas a continuarem suas vidas. Pela experiência, nós conseguimos nos sentir um pouco melhor sabendo que essa ação fez bem para as outras pessoas. São muitas pessoas necessitando e poucos que doam”, lembra Gilmar.

Com sucesso, os órgãos foram transplantados em pacientes que estavam na lista de espera da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul. “Quando é com um familiar nosso, movemos montanhas para ajudá-los. Seria ótimo se fosse assim com os desconhecidos, pois eles também precisam. Fico contente que minha irmã, mesmo após ter ido, tenha conseguido ajudar outras pessoas” finaliza.

 

Rede de apoio

- Nós precisamos falar sobre doação de órgão! - ressalta o diretor técnico do HCC, Dr. Darlan Lara. “É um momento envolto de uma emoção absurda, onde você precisa entender que o fato da mão estar quentinha, do coração estar batendo, não significa que a pessoa que você ama está viva. Quando a família sabe do desejo de doar os órgãos da pessoa amada, eles tendem a respeitar isso”, afirma.

Situação necessária para que ocorra a doação de órgãos, a morte encefálica é procedida por protocolos rígidos, regidos pelo Conselho Federal de Medicina - CFM. “É fundamental que a gente respeite os preceitos éticos desse processo, que as equipes estejam preparadas, como acontece aqui no HCC. Em nenhum momento se mistura a informação de morte cerebral com qualquer outra condição referente à doação de órgãos. São dois assuntos distintos que são tratados de formas distintas pelos nossos profissionais, mas, ambos com o mesmo carinho e atenção”, relata o médico.

De maneira anônima, a doação é realizada respeitando os códigos de ética e os tempos exigidos pelos protocolos. “É literalmente fazer o bem sem olhar a quem. É contribuir com a vida de alguém que você provavelmente não conhece e que, talvez, nunca venha a conhecer. O essencial é falar sobre o assunto. É não ter dúvidas. É tomar decisões absolutamente conscientes. E, nesse processo, a abordagem e o acolhimento a família, e, ainda mais, a transparência de cada passo desse processo é essencial para que a gente tenha resultados positivos”, esclarece Dr. Darlan.

O diretor do Corpo Clínico do HCC, Dr. Felipe Piva, também enfatiza a importância do diálogo sobre o assunto. “Existem muitos mitos sobre a doação, mas a medicina está cada vez mais evoluída e pronta para tratar disso. A partir de um doador, podemos beneficiar diversas pessoas, por isso, devemos também pensar na caridade, na compaixão por outra família que também tem um ente querido doente. É interessante que cada vez mais as famílias conversem sobre isso, porque, infelizmente, ninguém está livre de um acidente. Sempre existirão pessoas que precisam e é a partir da conversa que esse número pode ser diminuído”, finaliza o médico.


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